sexta-feira, 25 de abril de 2008

Vampiro





Leonardo abriu seus olhos e percebeu que estava caído no chão. Levantou-se com a cabeça ainda confusa e com uma dor lancinante em seu pescoço. Ainda era noite e Leonardo tinha apenas algumas poucas lembranças de que havia acontecido antes de "apagar". Lembrava-se de ter saído para pensar um pouco sobre o fim abruto de seu namoro, era muito tarde e as ruas estavam completamente desertas. Recordava-se também, ter ouvido ruídos de passos que o seguiam, de ter visto um vulto gigantesco e... de ter sido atacado por alguém antes de desmaiar.
O coração de Leonardo deu um sobressalto. Como depois de ser atacado na rua, ele havia ido parar no seu quarto? As coisas não faziam sentido! Mas o turbilhão de pensamentos que rodeava a sua cabeça foi abafado por uma fome que ele nunca havia sentido antes e uma vontade enlouquecida de sangue. O mais puro e vermelho sangue.
Foi quando Leonardo associou o vulto na rua, o ferimento no pescoço e a sede de sangue. "Não pode ser!"-pensou-"Vampiros não existem, e mesmo se existissem eles atacariam donzelas incautas, não eu!". Correu para o espelho para provar a si mesmo que era pura imaginação da sua cabeça. Mas o que ele viu só fez confirmar as suas suspeitas. Não havia o seu reflexo ali, ele verdadeiramente havia se tornado um vampiro!
O terror tomou conta do seu corpo. Tinha que se esconder! Tinha que ir para um lugar bem longe, onde não pudesse machucar ninguém. Mas seus instintos “vampirescos” recém adquiridos eram mais fortes que a sua razão. Abriu a janela do seu quarto, olhou a lua cheia que o iluminava com uma luz lúgubre e sem pensar em mais nada, abriu os seus braços e saiu pelo céu, à procura de sangue para se alimentar.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Eu ou ele

Édson acordou com a sensação de que alguma coisa estava errada. O travesseiro mole demais, o cobertor áspero... Não tinha ainda aberto os olhos quando ouviu uma voz estranha a chamá-lo:
- Hora de levantar, Luís!
Que era hora de levantar-se, ele sabia. Mas... Luís era seu amigo de colégio, por que o estariam chamando pelo nome dele?
Sentou-se na cama e olhou ao redor, tentando ligar os pensamentos e descobrir o que estaria fazendo num quarto tão diferente do seu.
A mesma voz de antes chamou ao longe:
- Quer se levantar de uma vez, ô Luís?
De repente, entendeu. Era a ele que estavam chamando, porque achavam que ele era Luís. Aquele travesseiro molenga, o cobertor áspero, o quarto estranho, tudo pertencia a seu amigo. Estava na casa de Luís. Mas como fora parar ali?
O sono era tanto que Édson quase não conseguiu levantar-se para ir até o guarda-roupa. Sabia que havia um espelho na terceira porta do guarda-roupa, embora não entendesse como sabia daquilo, já que ele era Édson, e não Luís, o dono do quarto.
Olhou-se no espelho e viu-se vestido num pijama azul que nunca vira, os olhos sonolentos abertos com muito custo, os cabelos despenteados. Não podia ser verdade: aquele que olhava do outro lado do espelho não era Édson, era Luís.
Quase caiu sentado no chão, o coração disparado. O que estava acontecendo? Tinha certeza que se chamava Édson, dormira ontem em seu quarto, em casa, com o irmão e a mãe, como, então, acordara em uma casa estranha-com um rosto e um corpo estranhos?!
Conseguiu arrastar-se de volta à cama, deitou-se, cobriu-se. Aquilo era um sonho. Tinha de ser! Se dormisse, acordaria de verdade e seria ele mesmo de novo, Édson, em seu quarto, o irmão dormindo na cama ao lado, o travesseiro duro, o cobertor macio. Em sua casa. Aquilo tudo não passava de um sonho, um pesadelo.
Estava adormecendo, quando um novo pensamento, ainda mais estranho de que tudo o que acontecera, insinuou-se em sua mente.
E se fosse o contrário? E se ele fosse realmente Luís? E se toda a vida que conhecera com o nome de Édson é que fosse um sonho? Agora, ele estaria simplesmente acordando para a vida real. Lembrou-se de seu aspecto no espelho, de pijama azul, olhos semi-cerrados, cabelos desalinhados. Ele era Luís. Ou não?
O sono voltava uma onda quente cobrindo seus pensamentos. Precisava dormir... Dormir... Dormir. E adormeceu sem saber se, quando acordasse, seria Luís ou seria Édson.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Doloroso Adeus


de Cícero Pedro de Assis
Mexendo nas minha coisas, encontrei alguns livros de cordel que eu havia comprado no inicio do ano na minha viagem a João Pessoa- Pb. Esse poema me chamou logo a atenção! Ele possui uma carga emocional muito forte, e mostra a triste realidade da seca no nordeste...

Adeus minha doce esposa!
Pedaço da minha vida!
Minha querida rainha!
Minha rosa preferida!
Reduto do meu amor
Logo mais farei partida!

Só vou embora daqui,
Porque não encontro ganho!
A nossa terra cansada
só tem pobreza e tamanho!
Chorarei muito por ti
Naquele lugar estranho.
Escrevo sempre pra ti
Preciso sempre saber
Meu amor como tu vais,
Pois não irei te esquecer.
Distante do teu carinho
Não sei como irei viver...

Deus me aponte um bom emprego,
Para que eu possa voltar
O mais depressa possível
A este velho lugar,
Para calar teu pranto
E também me consolar.

Se eu pudesse te levar,
Jamais iria sozinho,
Tristonho, desesperado,
Chorando sempre baixinho,
Reclamando pra mim mesmo
Do meu fadário mesquinho.
Adeus, meu amor, Adeus!
Adeus, que já vou partir!
Sinto enorme punhalada
Meu pobre peito ferir.
Não querendo te deixar,
É triste me despedir!

quinta-feira, 10 de abril de 2008

A bruxa

Grande história da minha infância :D




Aquela porta devia ter uns cem anos no mínimo. Toquei a campainha da casa cinzenta e fiquei esperando, tentando disfarçar o medo que sentia por estar à casa de uma bruxa. Que a velha senhora que morava ali era bruxa, disso não havia a menor dúvida: todos na rua comentavam o fato. "Ela deve ter saído" - pensei, esperançoso, vendo que ninguém aparecia para atender. Mas antes que pudesse ir embora, ouvi passos do outro lado da porta, aproximando-se. Eram passos lentos e pesados; agora eu teria de esperar e entregar o pacote que minha mãe mandara. - Droga!- resmunguei baixinho. A porta se abriu com um nhec sinistro, e logo eu vi o rosto da estranha mulher aparecer junto ao batente.
- Quem é você?- disse a velha com uma voz rouca (que me pareceu bem apropriada para pronunciar encantamentos).
- Sou filho da dona Vera, ali na frente. Ela mandou entregar este pacote para a senhora.
A bruxa olhou bem pra mim, abriu a porta inteira e ordenou:
- Entre.
Engoli em seco. Entrar?... Naquela casa?...
- Não obrigado, eu só vim entregar o pacote da minha mãe...
Estendi o embrulho para a velha, mas ela já se afastava pelo corredor, fazendo sinal para que a seguisse.
Sem saber por que, obedeci. Tremendo, entrei por um corredor escuro e longo. Ouvi a porta fechar-se sozinha atrás de mim com um blam que ecoou por toda a casa. (Mágica?) Tentei não pensar naquilo. Tratei de seguir o passo lento e pesado da bruxa.
O corredor não acabava nunca, e eu quase não olhava para os lados, com medo de que pudesse ver. Vislumbrei portas fechadas, coisas se mexendo (ratos?), teias de aranha e um objeto indistinto que parecia um esqueleto, rente à parede. Finalmente uma luz surgiu no fim do corredor, segui a bruxa para a cozinha iluminada. Lá um caldeirão de água fervia sobre o velhíssimo fogão.
- Pode pôr o pacote aí - disse a velha, indicando a mesa.
Coloquei o embrulho sobre a mesa e olhei em volta. Vi ramos de ervas e raízes pendurados pelas paredes, móveis rústicos e prateleiras cheias de vidros em formatos estranhos. Sobre pequenas estantes vi panelas de ferro e livros gastos, amarelados.
A mulher mexeu a água fervente com uma grande concha; encheu duas xícaras com água, colocou-as sobre a mesa.
- Sente-se e tome chá - resmungou a bruxa. Tirou do armário alguns saquinhos de chá, desses que são vendidos no supermercado.
Sentei-me. A velha pusera sobre a mesa um açucareiro e uma lata de biscoitos que pareciam biscoitos normais.
"Pelo menos" - pensei, enquanto colocava o saquinho na água fervente - "não é chá de sapo ou de morcego!"
Fiquei imaginando a cara dos meus amigos, quando contasse a eles.
Já não sentia medo. Pelo contrário, começava a achar que ser uma bruxa deveria ser bem mais interessante do que ser uma dona de casa como a minha mãe. Em pouco tempo, senti na boca o gosto tão conhecido do chá e dos biscoitos torradinhos, comecei a duvidar de que aquela velha fosse, realmente, uma bruxa. Talvez fosse apenas mais uma pessoa solitária, como tantas outras.

sábado, 5 de abril de 2008

1997

Texto baseado na música 1997 da banda Hateen.
Era novembro de 1997, e até hoje não sei muito bem como aconteceu. Só sei que enquanto estava à procura de um emprego, acabei achando a mulher da minha vida. Linda... Incrivelmente linda. Ela estava lá, atrás do balcão daquela loja. Seus cabelos bem penteados, e seus dentes muito brancos. Não lembro muito bem, mas sei que horas depois, estávamos em uma lanchonete, nos beijando. E meses depois estávamos morando juntos.
Foram os dias mais felizes da minha vida! Mesmo com todas as dificuldades do dia-a-dia, nunca me esquecerei de quando acordava e ficava a observando enquanto dormia. Seu rosto perfeitamente desenhado, o seu compassado respirar... Eu a amava em seus mínimos detalhes. Queria ser o único a repará-los. Queria o seu sorriso só para mim. Às vezes tínhamos pequenas brigas, mas não duravam muito. Nossa cumplicidade era mais forte.
Ela era muito popular. Sua inteligência e simpatia funcionavam como imã, atraindo as pessoas ao seu redor. Para falar a verdade, não gostava muito dos seus amigos. Sei que aqueles sorrisos forçados, às minhas costas se tornavam críticas e insultos. Bom, mas isso não importa mais.
Em um belo dia, esse sonho se dissipou. A mulher que eu amava já não me amava mais. Falou que eu sempre seria uma lembrança maravilhosa em sua vida, mas não podia mais ficar. Eu perdi o chão. Não conseguia mais viver sem sentir aquele corpo, aquela boca, ouvir a sua voz.
Eu não sabia o que fazer. Andava sem rumo pelas ruas, bêbado, tropeçando nos meus próprios pés. Não tinha mais razão para estar vivendo. Ela era tudo o que eu tinha! Às vezes eu a encontrava pela rua. Tentava a todo custo, dizer o quanto eu a amava e o quanto senti a sua falta. Mas engasgava. Enquanto ela apenas ria e dizia: "Tudo vai acabar bem".
Dez anos se passaram, e só agora consegui entender que a minha vida tinha que continuar. Eu não podia interrompê-la, por alguém que não me queria mais. Se continuasse, só ia conseguir me destruir cada vez mais. Hoje eu tenho uma nova vida.
Na verdade, não sei como cheguei aqui. O sofrimento tomou conta de mim por muito tempo. Mas hoje eu sou feliz novamente. A falta que eu sentia dela quase me matou, mas hoje eu tenho tudo o que eu sempre quis em toda a minha vida.
Mas eu ainda me lembro daquele novembro de 1997. Ainda me lembro de tudo o que eu quero esquecer.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Definições do amor


O amor é extremo,

pode te fazer bem, ou te fazer mal.

Às vezes é coberto com açúcar;

mas tem horas que é cheio de sal.


O amor é traiçoeiro,

e te faz ansiar um simples telefonema.

Te dá frio na barriga,

por um simples convite ao cinema.


O amor às vezes é platônico,

e te leva loucamente a chorar.

Enquanto aquele que tu amas,

só faz pouco caso do que venhas a falar.


O amor é cafona,

apelidos ridículos brotam da sua boca.

Leva-te a fazer as piores loucuras;

te transforma num competo "cabeça oca"!


Mas o amor é inevitável,

não tente fugir como eu...

Um dia ele irá tomar seu coração.

e te mostrará sensações que nunca conheceu!