sexta-feira, 20 de junho de 2008

Com pressa

Passei correndo pela sala de jantar usando meu melhor vestido, concentrada em me preparar para um encontro de negócios noturno. Gillian, minha filha de quatro anos, estava dançando ao som de sua música favorita, Cool, do filme Amor, sublime amor.
Eu estava com pressa à beira de chegar atrasada. No entanto uma vozinha dentro de mim disse: "Pare".
Então parei. Olhei para ela. Aproximei-me, peguei sua mão e a rodopiei. Minha filha de sete anos, Caitlin, entrou na nossa órbita e eu também a peguei. Nós três dançamos alucinadamente pela sala de jantar até chegarmos à sala de estar. Ríamos. Rodopiávamos. Será que os vizinhos podiam ver a loucura pelas janelas? Não tinha importância. A música chegou ao fim com um floreio dramático e nossa dança terminou com ela. Dei um tapinha em seus traseiros e mandei que fossem tomar banho.
Ela subiram as escadas, sem fôlego, seus risinhos ricocheteando pelas paredes. Voltei aos meus afazeres. Estava dobrada para a frente, enfiando papéis em uma pasta, quando ouvi a mais nova falar para a irmã.
-Caitlin, você não acha que a mamãe e a mais melhor de todas?
Congelei. Eu quase correra pela vida, perdendo aquele momento. Meu pensamento foi para os prêmios e os diplomas que cobriam as paredes do meu escritório: Nenhum prêmio, nenhuma realização que eu jamais alcançara, poderia se comparar a isso: "Você não acha que a mamãe é a mais melhor?"
Minha filha disse isso quando tinha quatro anos. Não espero que ela o diga com quatorze. Mas, aos quarenta, se ela se inclinar por cima daquela caixa de pinho para dizer adeus para o recipiente descartado da minha alma, quero que o diga:
"Mamãe nao é a mais melhor?"
Não combina com o meu currículo. Mas quero isso gravado na minha lápide.

Gina Barret Schlesinger
Extraído do livro "Histórias para aquecer o coração", da editora Sextante.

4 comentários:

Anônimo disse...

Não tenho filhos, mas deve ser ótimo ouvir algo desse tipo, principalmente de alguém que você tanto ama nessa vida. Realmente faz valer todos os sacrifícios.

Abraços

Ana Karenina disse...

Uma das melhores sensações do mundo. O reconhecimento pelo esforço ou até um amor correspondido. É de sair correndo pela rua, rindo e gritando.
Belo texto.

Abraço.

Anônimo disse...

Qualuqer reconhecimento é maravilhoso, ano importando se é de um amor ou filho, saber que voce fez a coisa certa e que alguem percebeu é otimo

Raphael Torres disse...

reflexão ou texto legal.

http://raphaelventura.blogspot.com/