terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Eu, um super herói

Desci do ônibus apressado, tentando me desembaraçar da multidão de garotos que, como eu, voltava da escola. Acenei para uns colegas que iam em direção contrária à minha. Precisava fazer de conta que eu ainda era um deles. Precisava fingir...

Enquanto ia pra casa, subindo a rua sob o sol quente, nem sentia os incômodos que tanto me irritavam antes. A calçada irregular, a falta de sombra, o barulho ensurdecedor do tráfego. Não, não havia espaço em minha mente para resmungos. Não depois que havia me transformado num super-herói.

Olhei ao redor, imaginando se as pessoas que subiam a rua teriam adivinhado meus pensamentos. Meu segredo era tão enorme, tão incrivel, que parecia impossível não ser visível num luminoso de neon sobre minha cabeça, piscando:

ESTE GAROTO É UM SUPER HERÓI

ESTE GAROTO É UM SUPER HERÓI

Segui suando sob o sol, coração apertado sob o peso daquele segredo, de meus superpoderes tão subitamente adquiridos. Devia ficar tranquilo, ninguém poderia adivinhar.

Ao passar pela portaria do prédio, tudo aquilo me pareceu ridículo. Eu, um super herói? Eu, participando de aventuras perigosas como as dos quadrinhos, enfrentando vilões, salvando a Terra, encarando a morte corajosamente? Isso era fantasia: não havia lugar para super-heróis no mundo real.

Eu não passava de um menino de onze anos, morando num apartamento de dois quartos no quinto andar de um edifício, estudando na quinta série num colégio estadual, normal até não poder mais, como poderia ser mais do que isso?

E, no entanto, lá estava, sob minha cama, a caixa que me fora enviado por ELES. Lá estava a roupa que me servia perfeitamente, e com a qual me sentia tão bem. Por fim, lá estava eu, imagem refletida no espelho do quarto que dividia como meu irmão.

Não, eu não podia mais fazer de conta que tudo era como antes. No fundo de meus próprios olhos vi o brilho de superpoder. Mesmo que não aceitasse as instruções, mesmo que não vestisse as roupas, que não voasse ou fizesse qualquer demonstração, eu era um super-herói por dentro.

Senti a vibração dos poderes em mim, a sensação de tantas coisas incríveis que poderia fazer, a vontade de voar livre nos céus. Minha mente se expandia e percebia coisas distantes acontecendo, conversas estranhas, fatos passados e futuros.

Eu tinha de aceitar a verdade: nunca mais na minha vida voltaria a ser como antes. Aqueles poderes me pertenciam e eu devia usá-los!

Concentrei os pensamentos e desejei ficar invisível. Não me surpreendi quando, em poucos segundos, meu corpo se tornou transparente e a imagem refletida no espelho desapareceu. Suspirei, ergui os braços e subi; passei pela vidraça aberta da janela, contornei os fios elétricos que saíam do edifício na direção dos postes, subi mais.

Voava livre sobre a cidade, feliz com a inacreditável sensação da invisibilidade e do vôo, mas levando ainda o coração apertado com o peso do segredo e da responsabilidade.

Pois eu era um super-herói, e a partir daquele momento a preocupação com o povo e o planeta, a coragem de enfrentar o perigo e amorte teria de fazer parte do meu dia-a-dia.

10 comentários:

Cápsula Design BA disse...

legaaaaaaaaal!
Mto decenteee!
a fto do menininho encaixou legaaal!
hahhhehehe
massa mesmo
tehhh

Jefferson Barbosa disse...

kkkkkkkkkkkk eu adoro ler sonhos *.*

Anônimo disse...

Muito bom texto esse do super héroi, melhor ainda a estrutura do blog. Parabéns...

Anônimo disse...

sem palavras.

realmente sem palavras.

janao disse...

eu tava de bobeira passeando pela comunidade "eu tenho um blog" encontrei o seu em um daqueles tópicos de comentar no blog alheio. Apesar de não concordar mt com esse tipo de tópico é impossível visitar e não elogiar o seu texto.

Parabéns.

:)

Everaldo Ygor disse...

Olá!
Belo post...
um texto de nossas infancias...
Do super heroi que aparece no momento em que temos que viver e sair do sonho de ser criança...
Abraços
Everaldo Ygor
http://outrasandancas.blogspot.com/

Karla disse...

"Uooooooooou", diria Doug, o Capitão Codorna!
Eh isso, né? Espero n ter confundido os nomes na minha analogia!

Acho q a gnt sempre tem um pouco de heroísmo por dentro, nunca deixa de ser um pouco criança (pelo menos n deveria) e escondemos por debaixo das nossas roupas uma capa de super-herói q poderia ser mais usada, mostrada, sei lá...

Queijos!

Anônimo disse...

Muito bom Charles!!! A cada dia vc me surpreende! Excelente crônica!!Vc é um ótimo escritor..continue escrevendo, aperfeiçoando o dom q Deus t deu. O layout do blog está lindo tbm e a foto encaixou perfeitamente. saudades. bj
deposi volto aqui para ler o outro txt

Anônimo disse...

MMMMMMMMMttttttttt Legal!!!
Esses talentos escondidos hein...
N pare hein?
xP

Unknown disse...

Esse texto é legal, mas você deveria dar o crédito à escritora Rosana Rios.