terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

O império da vaidade

Você sabe por que a televisão, a publicidade, o cinema e os jornais defendem os músculos torneados, as vitaminas milagrosas, as modelos longilíneas e as academias de ginástica? Porque tudo isso dá dinheiro. Sabe por que ninguém fala do afeto e do respeito entre duas pessoas comuns, mesmo meio gordas, um pouco feias, que fazem piquenique na praia? Porque isso não dá dinheiro para os negociantes, mas dá prazer para os participantes.
O prazer é físico, independentemente do físico que se tenha: namorar, tomar milk-shake, sentir o sol na pele, carregar o filho no colo, andar descalço, ficar em casa sem fazer nada. Os melhores prazeres são de graça- a conversa com o amigo, o cheiro de jasmim, a rua vazia de madrugada -, e a humanidade sempre gostou de conviver com eles. Comer uma feijoada com os amigos, tomar uma caipirinha no sábado também é uma grande pedida. Ter um momento de prazer é compensar muitos momentos de desprazer. Relaxar, descansar, despreocupar-se, desligar-se da competição, da áspera luta pela vida- isso é prazer.
Mas vivemos num mundo onde relaxar e desligar-se se tornou um problema. O prazer gratuito, espontâneo, está cada vez mais difícil. O que importa, o que vale, é o prazer que se compra e se exibe, o que não deixa de ser um aspecto de competição. Estamos submetidos a uma cultura atroz, que quer fazer-nos infelizes, ansiosos, neuróticos. As meninas precisam se modelos que desfilam em Paris, os homens não podem assumir sua idade.
Não vivemos a ditadura do corpo, mas seu contrário: um massacre da indústria e do comércio. Querem que sintamos culpa quando nossa silhueta fica um pouco mais gorda, não porque querem que sejamos mais saudáveis- mas porque, se não ficarmos angústiados, não faremos regimes, não compraremos mais produtos dietéticos, nem produtos de beleza, nem roupas e mais roupas. Precisam da nossa impotência, da nossa insegurança, da nossa angústia.
O único valor coerente que essa cultura apresenta é o narcisismo.
Paulo Moreira Leite

7 comentários:

Marcus Vinicius disse...

poxa muito bom
vc escreveu tudo q qria dizer
muito bom mesmo!!
comcordo com vc!
um abraço!

The unknown human who sold the world disse...

O melhor prazer do mundo é beber água e até isso vendem por 1 real. rs

Nelson L. Rodrigues disse...

gostei meu caro, limpo, interessante.

Paulo Roberto disse...

Nossa quanto entusiasmo e quanta simpatia!!!
Só podia ser do Nordeste, é de Pernambuco tbm?
Um abraço, volto auqi depois pra comentar sobre o texto.

Paulo Roberto disse...

A feira de caruaru, daria um otimo post...
Valeu cara pela inspiração que acabei de ter.
Ainda volto aqui como te falei pra comentar sobreo texto.
To no trampo...

Isabela disse...

A vaidade é péssima.
Eu não a tenho. E as pessoas ainda reclamam por isso.... ¬¬

http://giiblog.wordpress.com/

Giovanna Vilela disse...

É isso mesmo, mas sabe de uma coisa, esse "eles"somos todos nós. Não adianta ficarmos revoltados ao assistir um cara sem noção entrar no enterro da Amy e fazer piada da tristeza, se na hora de assistir e subir a audiência, todos correrem para espiar o resultado.
Se isso dá ibope é porque a maioria gosta. Se mudarmos nossos costumes, voltarmos nosso olhar para as coisas boas da vida, que como você sabiamente disse, são simples, quem sabe aos poucos tudo muda.
Para sem honesta, infelizmente tenho uma visão um pouco diferente. Acredito que o ser humano é originalmente atraído pelo trágico. Como mudar? Não sei, mas numa coisa acredito. Certamente ser mais um curioso das fatalidades da vida não vai ajudar. Voltar o olhar para o belo e desviar do errado, quem sabe. Vamos tentando. Parabéns pelo blog.