A pulsação era suave, contínua, incessante. Não havia nada além dela. Tudo- o calor, o alimento, até as ondas confusas de pensamentos em sua mente - embalava-se ao ritmo daquela pulsação eterna, compassada, confortável.
Conforto. O universo inteiro era um lugar morno e macio. Existir era flutuar naquele líquido desde sempre, sentindo-se crescer aos poucos. Sem interrupções. Sem peso. Sem esforço. O alimento chegando em intervalos pausados, a força e o prazer de mover os membros vagarosamente, chutar as membranas em volta.Flexíveis, macias... Dormir e acordar tranquilamente, como se os sonhos fossem apenas o outro lado dos pensamentos. Tão parec idos! Era bom existir.
O movimento começara imperceptivelmente, pequena variação no pulsar costumeiro. Nada de mais, apenas um novo balanço a embalar seu sono. Porém com o passar dos minutos foi se intensificando, sobrepondo-se ao outro pulsar, sacolejando as membranas macias que de repente pareciam enrijecer.
Desconforto. Urgência. o universo de repente empurrando seu corpo como se quisesse expelir. E o movimento ficando mais forte, anulando a pulsação conhecida, causando dor, impedindo o prazer de flutuar. Pela primeira vez sentiu medo.
Subitamente todo o líquido pareceu escoar-se, e absurda sensação de frio envolveu-o. Um empurrão mais forte e o frio se tornou insuportável: o universo como que explodia em dolorosa luz, ofuscando-lhe os olhos, penetrando- lhe, das narinas até as profundezas do corpo.
Quis voltar ao calor e à maciez da existência de antes, mas seu universo não mais existia. E ao frio intenso, ao desconforto e à agressão respondeu tentando expulsar o ar gelado pela boca. Gritou.
5 comentários:
Nunca tinho olhado o nascimento por esta ótica....
realmente deve ser muito traumático, o nascimento...
belo texto como sempre
[]s L.Sakssida
já comentado belissimo testo
diferente e encantador seu ponto de vista...
Ótimo texto. Uma pespectiva interessante do nascimento. Parabéns. :)
Otimo seu ponto de vista...
gostei ..
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