segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Universos- Texto 2


Os pensamentos confusos, que durante um bom tempo se haviam misturado a sonhos em sua mente, finalmente se concentraram em um só. Estou acordado.

Precisou de todas as forças de que dispunha para controlar o medo e não gritar. Repassou mentalmente o treinamento, os exercícios, as noções teóricas que agora testaria na prática.

Desenvolvendo equações mentais, conseguiu evitar a lembrança do desconforto que lhe causava a roupa, os aparelhos gelados pressionando seu corpo, tubos invadindo-lhe a pele para a introdução de alimentos e a retirada de resíduos.

Nada além de dor e frio, luzes incomodando-lhe os olhos, ardores e arrepios maltratando-lhe o corpo. Tentou ajustar-se ao assento da nave. Anatômico, asseguravam os técnicos. Mas desconfortável para quem ali permanecesse por muito tempo.

Finalmente tomou coragem e abriu os olhos. A cápsula continuava como mesmo aspecto de que se lembrava, antes de ser induzido ao sono. Os aparelhos indicavam exatamente o que deveriam indicar. Checou os números e mapas, aproveitando a concentração da atenção nos detalhes técnicos para amenizar o desconforto físico. Sim, estava acordado e em boas condições. Sobrevivera aos testes, ao lançamento, ao longo período em estado de hibernação. E localizava-se agora na região desconhecida.

Foi então que teve coragem de olhar pela primeira vez o visor. Invadiu-o a sensação estranha, inesperada. Aquela região não lhe era desconhecida...

Soltou as travas que retinham no assento. Deixou o corpo flutuar com a falta de gravidade como se tivesse feito aquilo a vida toda, e aproximou-se do visor agarrando os corrimões instalados para essa finalidade. Junto ao posto de oservação teve melhor visão.

Sim, racionalmente sabia que as estrelas que via através do visor da nave não eram as que poderia ver no céu de seu planeta. Eram outras, as que seus mapas e cálculos indicavam como posicionadas nos confins da galáxia. E mesmo assim, ele conhecia o lugar. Embora aquela missão fosse uma das primeiras e ele um dos poucos a explorar a região, sentia-se em casa. A vista diante de seus olhos era magnífica. À frente, o universo.

Conforto. O universo inteiro era um lugar morno e macio. Existir era flutuar ali desde sempre. Sem interrupções. Sem peso. Sem esforço. O alimento chegando em intervalos pausados, a força e o prazer de mover os membros vagarosamente, acompanhando a pulsação do universo... Dormir e acordar, como se os sonhos fossem apenas o outro lado dos pensamentos. Era bom existir.

Sorriu dentro da roupa que já não parecia desconfortável e preparou-se para enviar as primeiras mensagens à Terra.

5 comentários:

Caroline disse...

As vezes tenho vontade de me enfiar numa cápsula e parar perdida no meio do espaço, não voltar nunca mais... rs

Gostei do blog!

Isabela disse...

Ótimos posts. Parabéns.

E eu nunca gosto de quandoe ntro num blog e uma música começa a tocar. Mas aqui até que foi bem agradável, essa música vai aos pouquinhos, começa mais calma, não assusta. Ótima. :)


http://giiblog.wordpress.com/

zé bacalhau disse...

do estilaao do meu cara
mto bom post
;D

Anônimo disse...

De todos os blogs que li esse sem dúvida é um dos melhores, parabéns mesmo pelo talento
posso dizer que me senti no espaço lendo o texto, no começo até deu um certo desconforto (tubos para alimentos...)

mnais uma vez parabéns

Abraços!

Everaldo Ygor disse...

Olá...
Que bela e solitaria narrativa essa sua...
Descrições que levam o leitor ao momento sublime desse universo...
Tem aqui um blog muito bom...
Abraços
Everaldo Ygor
http://outrasandancas.blogspot.com/