quinta-feira, 13 de março de 2008

Jeitos de Falar

Adoro passar o dia com meu avô e minha avó. De vez em quando faço isso, e sempre me divirto de montão.
Vovô é alto, magro, tá sempre olhando pra cima. Gosta de olhar as nuvens. Já me explicou vinte vezes a diferença entre cirros, cúmulos e nimbos. Outro dia me disse:
- A presença no firmamento de densos nimbos em baixa altitude prenuncia precipitações pluviométricas iminentes.
Fiquei na mesma. Só entendi quando Vovó me explicou:
- Vai chover.
Vovó é muito ativa: anda pra lá e pra cá o tempo todo. É ela quem sabe onde estão guardadas todas as coisas na casa, desde alfinetes até enormes baús da bisavó. É gorducha e, perto de Vovô, parece baixinha.
Vovô sabe tudo. Conhece todas as palavras do dicionário, todos os países do mundo - com nome científico e tudo. Adoro conversar com ele, mas não pesco nem metade, só dá pra entender o que ele diz se vovó estiver junto.
Vovó não fala muito; em compensação, faz cada doce de dar água na boca. E tricota os agasalhos mais quentinhos do mundo.
Ontem passei o dia na casa deles, e saímos os três pra fazer compras. Entramos na farmácia e Vovô disse pro balconista:
- Por obséquio, necessitamos adquirir cápsulas de ácido acetilsalicílico para sanar cefalalgias.
O garoto atrás do balcão ficou o lhando pro Vovô como se ele tivesse falado grego. Aí Vovô traduziu:
-Precisamos de aspirina para dor de cabeça.
É por essas e outras que eu adoro Vovô e Vovó.

3 comentários:

Gustavo Marinho disse...

Muito bom sua postagem. Parabéns pelo blog. Depois passe no meu: www.gugumarinho.globolog.com.br

Anônimo disse...

Engracado ver esse tipo de cenas, palavras que nao sao mais usadas e as pessoas nao entendem nada qndo escutam, apesar de eu so ter 22 anos aocntece isso comigo em relacoes a girias q eu falo e ninguem fala mais rs

blog disse...

Um texto feito pelo ponto de vista da criança.
Lembrou-me Guimarães Rosa. Claro que com as devidas diferenças estilísticas.
Mas esse é o mote.
Vale.