segunda-feira, 10 de março de 2008

O poder do perdão

Em 1974, voltando da escola para casa no último dia antes das férias de Natal, eu pensava animadamente sobre o feriado vindouro, como só os meninos de dez anos conseguem sonhar. A algumas portas de distância da minha casa em Coral Grables, Flórida, um homem se aproximou de mim e perguntou se eu poderia ajudá-lo com a decoração de uma festa que ele estava dando para meu pai. Achando que era um amigo de meu pai, concordei em ir com ele.
O que eu não sabia era que este homem tinha ressentimentos contra a minha família. Trabalhara como enfermeiro para um parente idoso, mas fora despedido por causa da bebida.
Após eu ter concordado em acompanhá-lo, ele dirigiu seu trailer até uma área isolada ao norte de Miami, onde parou no acostamento da estrada e me golpeou várias vezes no peito com um furador de gelo. Então dirigiu para oeste, até Flórida Everglades, levou-me até o meio dos arbustos, deu um tiro em minha cabeça e me deixou lá para morrer.
Felizmente a bala havia passado por trás de meus olhos e saído pela minha têmpora esquerda sem causar nenhum dano cerebral. Quando recobrei a consciência, seis dias depois, não tinha noção de que tinha sido atingido por um tiro. Fiquei sentado no acostamento e fui encontrado por um homem que parou para me ajudar.
Duas semanas depois descrevi a pessoa que me atacara para o desenhista da polícia e meu tio reconheceu o retrato resultante como o homem que me atacara. Meu agressor foi preso, junto com outros suspeitos. Entretanto, o trauma e o estresse haviam cobrado seu preço e não pude identificá-lo. Infelizmente a polícia não conseguiu recolher nenhuma prova física que o ligasse ao crime. Portanto, ele nunca foi acusado.
O ataque me deixou cego do olho esquerdo, mas não causou nenhum outro dano e, com amor e o apoio da minha família e amigos, voltei para a escola e dei continuidade a minha vida.
Durante os três anos seguintes, vivi com uma extrema ansiedade. A maioria das noites eu acordava assustado, imaginando que havia escutado alguém entrando pela porta dos fundos e acabava dormindo no pé da cama de meus pais.
Então, quando eu estava com treze anos, tudo isso mudou. Uma noite, durante um estudo da Bíblia com o grupo jovem da igreja, percebi que a providência e o amor de Deus, tendo miraculosamente me mantido vivo, eram a base para a segurança em minha vida. Em Suas mãos eu podia viver sem medo ou rancor. E então eu o fiz. Terminei os estudos, recebendo o diploma de Divindade. Casei com minha maravilhosa esposa, Leslie. Temos duas filhinhas maravilhosas, Amanda e Melodee.
Em setembro de 1996, o major Charles Scherer, do Departamento de Polícia de Coral Gables, que trabalhara na investigação original do meu caso, telefonou-me para me contar que o agressor, hoje com setenta sete anos de idade, finalmente confessara. Cego por causa do glaucoma, com a saúde abalada, sem família ou amigos, ele estava em um asilo no norte de Miami Beach. Fui visitá-lo.
A primeira vez em que fui visitá-lo ele se desculpou pelo que havia feito a mim e eu lhe disse que o havia perdoado. Visitei-o muitas vezes depois disso, apresentando-o à minha esposa e filhas, oferecendo-lhe esperança e uma certa sensação de família nos dias anteriores à sua morte. Ele sempre ficava feliz quando eu aparecia. Acredito que nossa amizade tenha diminuído sua solidão e era um grande alívio para ele, após vinte e dois anos de arrependimento.
Sei que o mundo pode me ver como a vítima de uma horrível tragédia, mas eu me considero a "vítima" de muitos milagres. O fato de eu estar vivo e não ter nenhuma deficiência mental desafia as probabilidades. Tenho uma esposa amorosa e uma família linda. Recebi tantas dádivas quanto qualquer outra pessoa - e amplas oportunidades. Fui abençoado de várias maneiras.
E enquanto muitas pessoas não conseguem entender como pude perdoá-lo, do meu ponto de vista eu não poderia deixar de fazê-lo. Se eu tivesse escolhido odiá-lo todos esses anos, ou passar a vida procurando vingança, então eu não seria o homem que sou hoje - o homem que minha mulher e filhas amam.

Chris Carrier- Extraído do livro Histórias para aquecer o coração, da editora Sextante.

7 comentários:

Anônimo disse...

Gostei do seu blog...
Este trexo extraído do livro... foi muito bom, acho que muitas pessoas deveríam ver isto =)

Eu disse...

Adorei o texto e o blog!

http://www.realidadedescartavel.blogspot.com

Anônimo disse...

Esse livro inteiro é um dos melhores que ja li, e voce escolheu muito bem o trecho

Debora Ferreira disse...

Lindo o texto... a dádiva do perdão é pra poucos ! São escolhidos a dedo por Deus !
E a lição que a gente tira... FANTÁSTICO !

Unknown disse...

Cara, muito bom o texto que você tirou desse livro!

Obrigado pelo comentário lá no meu!

Abraços.

Unknown disse...

Olha, não gostei muito do seu blog, mas porquê ele não faz meu estilo, mas ele foi bem escrito, parabéns!

pasa no meu se quiser:

http://diariosdeumaloucalucidez.blogspot.com

David Marcelino disse...

Ótima citação de texto e layout muito bom. Gostei do seu blog.

http://thatsal.wordpress.com/category/posts-do-david/