quinta-feira, 10 de abril de 2008

A bruxa

Grande história da minha infância :D




Aquela porta devia ter uns cem anos no mínimo. Toquei a campainha da casa cinzenta e fiquei esperando, tentando disfarçar o medo que sentia por estar à casa de uma bruxa. Que a velha senhora que morava ali era bruxa, disso não havia a menor dúvida: todos na rua comentavam o fato. "Ela deve ter saído" - pensei, esperançoso, vendo que ninguém aparecia para atender. Mas antes que pudesse ir embora, ouvi passos do outro lado da porta, aproximando-se. Eram passos lentos e pesados; agora eu teria de esperar e entregar o pacote que minha mãe mandara. - Droga!- resmunguei baixinho. A porta se abriu com um nhec sinistro, e logo eu vi o rosto da estranha mulher aparecer junto ao batente.
- Quem é você?- disse a velha com uma voz rouca (que me pareceu bem apropriada para pronunciar encantamentos).
- Sou filho da dona Vera, ali na frente. Ela mandou entregar este pacote para a senhora.
A bruxa olhou bem pra mim, abriu a porta inteira e ordenou:
- Entre.
Engoli em seco. Entrar?... Naquela casa?...
- Não obrigado, eu só vim entregar o pacote da minha mãe...
Estendi o embrulho para a velha, mas ela já se afastava pelo corredor, fazendo sinal para que a seguisse.
Sem saber por que, obedeci. Tremendo, entrei por um corredor escuro e longo. Ouvi a porta fechar-se sozinha atrás de mim com um blam que ecoou por toda a casa. (Mágica?) Tentei não pensar naquilo. Tratei de seguir o passo lento e pesado da bruxa.
O corredor não acabava nunca, e eu quase não olhava para os lados, com medo de que pudesse ver. Vislumbrei portas fechadas, coisas se mexendo (ratos?), teias de aranha e um objeto indistinto que parecia um esqueleto, rente à parede. Finalmente uma luz surgiu no fim do corredor, segui a bruxa para a cozinha iluminada. Lá um caldeirão de água fervia sobre o velhíssimo fogão.
- Pode pôr o pacote aí - disse a velha, indicando a mesa.
Coloquei o embrulho sobre a mesa e olhei em volta. Vi ramos de ervas e raízes pendurados pelas paredes, móveis rústicos e prateleiras cheias de vidros em formatos estranhos. Sobre pequenas estantes vi panelas de ferro e livros gastos, amarelados.
A mulher mexeu a água fervente com uma grande concha; encheu duas xícaras com água, colocou-as sobre a mesa.
- Sente-se e tome chá - resmungou a bruxa. Tirou do armário alguns saquinhos de chá, desses que são vendidos no supermercado.
Sentei-me. A velha pusera sobre a mesa um açucareiro e uma lata de biscoitos que pareciam biscoitos normais.
"Pelo menos" - pensei, enquanto colocava o saquinho na água fervente - "não é chá de sapo ou de morcego!"
Fiquei imaginando a cara dos meus amigos, quando contasse a eles.
Já não sentia medo. Pelo contrário, começava a achar que ser uma bruxa deveria ser bem mais interessante do que ser uma dona de casa como a minha mãe. Em pouco tempo, senti na boca o gosto tão conhecido do chá e dos biscoitos torradinhos, comecei a duvidar de que aquela velha fosse, realmente, uma bruxa. Talvez fosse apenas mais uma pessoa solitária, como tantas outras.

13 comentários:

Unknown disse...

Sinistro!

Me fez relembrar histórias parecidas... koaiskoais!

Aceita uma parceria??

www.portalespetacular.zip.net

Abraços!

vitor Marques disse...

preciso da ajuda de vcs votem lá no top br estou participando
e olha envez de comentar vota entendeu
vlw
www.paginabrasil.vai.la/

Unknown disse...

É de links sim... O seu já tá lá!

Quando colocar o meu aqui avise-me;

Abraços!

www.portalespetacular.zip.net

Anônimo disse...

Erm.... O que tinha no embrulho?
*curioso*

Você não pára de me surpreender, guri.

by aguia81 disse...

Cara, imagina se no meio do chá com biscoitos um gato mia e velha grita:
- Fica quieto satanás, temos visita, aliás, o nosso jantar de hoje está garantido...
hehehe
Viu como as aparências enganam??

Abraço

Anônimo disse...

Uma vez eu peguei ônibus com a dubladora da Bruxa... hauahua

Admin disse...

aceita parcerias

Visita lah tbm tá

Charges, Humor e Noticias

Marcus Vinicius disse...

ei!
muito bom!
passei pra retribuir o comentario!
lol um abraço
belo texto!

Se Liga Jovem disse...

muito legal a história!

Anônimo disse...

Hum...

Me fez refletir como às vezes podemos estar julgando mal uma pessoa só pela aparência, esse "pré-conceito" pode nos afastar de pessoas maravilhosas...

Bjokas!

Obrigada pela visita!

Anônimo disse...

Uma história sinistra,
curiosa e interessante.
Valeu!

www.indicacao.wordpress.com

Everaldo Ygor disse...

Olá...
Um conto bem curioso, prende a atenção do leitor até o final...
Sim, são elas, as pessoas solitarias que tem algo a dizer...
Abraços
Everaldo Ygor
Visite:
http://outrasandancas.blogspot.com/

Anônimo disse...

Este texto é de Rosana Rios. Está em um livro que ela preparou para o sexto ano.